Isso tem história...
Desde criança, na escola, sou subestimada. Ouço coisas que
me fazem pensar que sou pior/ que posso menos que os outros. A adolescência chegou, e as piadinhas, os nomes pejorativos com relação à minha capacidade mental e
ainda o fato de eu sempre ter sido gordinha, fez com que tudo piorasse, porque
além de “burra” eu também era “gorda”. Fui crescendo e, infelizmente, carreguei
comigo um complexo. Não com relação ao meu peso – que só aumentou de lá pra cá.
Com isso, inclusive, eu sou até bem segura para o normal. A maioria chora, se
desespera com um “Fala, gordinha”. Eu não. Rio, brinco, caio na onda. Mas o
primeiro que subestimar minha capacidade de raciocínio consegue sim me magoar.
Minha mãe me criou fazendo o contrário do que todos na
escola diziam que eu era. Todo dia ela fazia questão de me dizer que era como
todos os meus colegas, apenas tinha mais dificuldade em entender, prestar atenção,
etc. Não agüentando a situação de ver a minha auto-estima tão baixa, cada vez
mais baixa, todo dia, ela resolveu buscar saber o que poderia ser. Foi aí que
entrou a neurologista, que diagnosticou: TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Ela então passou um remédio – Ritalina- e meu rendimento
escolar começou a crescer muito. Não absurdamente, mas pelomenos eu não ficava
mais estudando o dia inteiro para chegar na prova e tirar 0,5. Comecei a tirar
6,0, 7,0 e até 8,0, o que pra mim era impossível antes do remédio. O que muitos
chamavam de preguiça, descaso e outros nomes, eu passei a chamar de TDAH. Me
esforçava ao máximo para prestar atenção e estava conseguindo e isso me deixava
muito feliz.
Desde a 7ª série até o segundo ano do ensino médio, eu tomei
esse remédio. No terceiro, minha mãe preferiu cortar. Afinal, remédio tarja
preto e com a maturidade, talvez eu conseguisse fazer sozinha o que o remédio
fazia.
Eu consegui sim. Em parte! Ia para a escola todo dia, nunca
fui de faltar aula, aliás eu detesto. Prestava o máximo de atenção, até mesmo
em aulas que eu não gostava, visando conseguir um bom resultado nas provas de
vestibular. Estudei razoavelmente bastante. Meu erro foi ter resolvido mudar de
carreira depois de ter me inscrito e realizado todas as provas, exceto uma.
Coloquei a carreira que eu queria, justamente na única que
faltava- UERJ. Passei - em décimo lugar- e foi pra lá que eu fui. Ninguém esperava! Todo mundo pensava que eu não era capaz. Bem... Surpreendi!
Estou adorando o curso e no semestre
passado passei com notas excelentes.
Hoje em dia, me tornei uma pessoa com algumas defesas do
tipo: Não admito que se aproveitem de mim. Se eu sentir que alguém está
tentando, eu me revolto. Tudo bem que ninguém gosta que alguém se aproveite,
mas comigo é algo em excesso. Já sofri muito por isso, já fiz inúmeros trabalhos
sozinha e ainda ouvi críticas no dia da apresentação, de gente que não tinha
feito nada e que inclusive só foi ver como o trabalho tinha ficado no dia que
era pra entregar. Eu não quero e não pretendo passar por isso denovo.
Bom, agora vem a real e principal questão do texto: Minha
mãe.
Sim, exatamente! A que sempre me fez pensar que sou tão
capaz quanto X e Y, hoje me subestima mais que qualquer um.
Diz que não vou conseguir fazer em tal prazo, que é pouco
pra mim, que não vou conseguir chegar a tal lugar e como vou voltar de um lugar
que não conheço? Ela nem pega ônibus e fica querendo me dizer onde devo saltar.
Eu sei o que fazer. Tanto que fiz e ela se deu mal, achando que eu me perderia.
E ainda ficou me zoando por eu ter pego dois ônibus para voltar de um lugar que
eu não fazia a menor idéia de onde era.
Parece que ela acha que sou uma idiota e que não sou capaz
de nada se não tiver alguém do meu lado para me orientar.
Já chorei muito por causa disso, inúmeras vezes. Uma das
pessoas que mais amo na minha vida, me fazendo sofrer tanto.
Ela pode chamar de drama, mas eu não acho que seja, visto
que além de ela não me elogiar nunca – pelomenos não pra mim e nem na minha
frente-, não consegue aceitar um elogio que façam a mim.
Por exemplo: “Nossa! Como ela emagreceu!” Ela torce o nariz,
franze a testa e diz: “Mais ou menos né...” Porque não concorda?
E é sempre assim! Não é fácil querer sempre ser a melhor –
ao ver dela- e nunca conseguir um misero elogio.
Contei uma breve história da minha vida... O que realmente
me afeta, então, para os poucos que lêem... Jamais insinuem que não vou
conseguir fazer alguma coisa ou que sou burra por não estar entendendo
determinado ponto de uma matéria. Nunca tentem me fazer de boba, isso realmente
me irrita.
Obs: E para piorar, minha TPM não passa!