"Me lembro quando criancinha
minha mãezinha ralhava comigo.
Dizia pra Dona Chiquinha:
"essa garotinha vai ser um perigo".
Corria para me bater e ao correr, ela gritava:
"para, menina, para, se não vás apanhar.
Para, menina, para, se não vás apanhar"!
Qual nada, eu não parava, continuava sempre a correr.
O sol parecia brasa e eu só chegava em casa ao anoitecer.
Aí eu ajoelhava, ela perdoava e não batia não.
Aí eu ajoelhava, ela perdoava e não batia não."
Sem motivo ou razão de ser, volta e meia essa música -que muito me lembra minha avó- vem a minha cabeça me fazendo ter flashes de quando ela cantava para mim, antes de eu ir dormir.
Acertou! Virei um perigo. Se não tiver alguém consciente perto de mim, 24 horas por dia, faço coisas que minha cabeça curiosa me manda e sigo caminhos que meus instintos nada maduros me dizem que são errados. Mas num debate entre curiosidade e instintos, com certeza os instintos deveriam vencer, mas a curiosidade fala mais alto.
E é seguindo essa linha de pensamento que cheguei a conclusão de que o que minha avó falava de mim e cantava pra mim, hoje fazem todo sentido.
Sim, sou perigosa.
Sou maluca de ciumes, posso colocar fogo na casa tentando fritar um ovo, quando fico com raiva, quero bater em todo mundo, gosto tanto de aproveitar os prazeres da vida que acabo indo além do que eu deveria.
Sou perigosa!
Dependendo da pessoa, posso e sei fingir. Sei mentir, omitir, rir mesmo sem vontade e ficar séria querendo rir.
Tenha medo!
Posso não ser confiável como você pensa e toda essa segurança que te passo pode em um segundo se desfazer no vão de tantas coisas que inventei para te conquistar. Ou que omiti para te convencer.
Te confundi? Pois é!
Viu que perigo?
Agora você está aí com as sobrancelhas franzidas, tentando entender ao menos uma linha do que eu tentei dizer.
Também posso te manipular, persuadir, fazer você se irritar e depois usar isso como uma arma contra você.
Abra bem os olhos.
Pode ser que nada do que eu disse até agora seja verdade. Posso estar inventado para te prender ao texto ou posso estar me descrevendo para que você me conheça.
Cuidado! Olha que perigo. Você achando que tudo isso era verdade e de um instante para o outro tudo vira mentira.
É como eu sempre digo: "todo sim, pode um dia virar não".
Mas não espere que vire não para aproveitar a beleza do sim.
Viajei né?
Olha que manobra arriscada, quase que eu esqueço de retornar a tempo de te dizer: Cuidado! "Essa garotinha é um perigo!"