Eu tinha várias coisas para escrever, passei o dia organizando tudo na minha cabeça, mas sempre acontece isso: Quando chega o momento de passar tudo para o papel, me some da mente e meus pensamentos ficam todos desorganizados.
Mas vou tentar refazer minhas idéias.
Eles eram lindos, grandes, brilhosos e lisos, sim, estou falando dos meus cabelos e porque no passado? Porque anteontem resolvi que ia cortar-los.
Era mais de um metro de cabelo, chegava à metade da bunda. Entrei
no salão decidida a passar por uma das maiores torturas pra mim. Mas quando
soltei o cabelo para jogar naquela pia que é usada para lavar cabelos, a cabeleireira
se assustou com o tamanho.
Pois bem... Lavou, penteou, alisou, ajeitou, repartiu e isso
tudo bem aflita- notava-se. Eu havia sido breve com o meu pedido sobre picotar
meu cabelo e cortar as pontas da franja, mas ela parecia estar com muito medo
de fazer besteira- não sei quem estava com mais medo, eu ou ela.
Ela alisava, abria a tesoura, ameaçava cortar e parava,
limpava o suor, penteava, olhava pra mim, fazia mil perguntas sobre o corte e
voltava com a tesoura. Parou denovo, mostrou revistas, cortes, me fez dar
certeza do que eu queria, fez várias vezes a mesma pergunta: Vai mesmo cortar
tudo isso?
A moça parecia suar frio. Minha mãe chegou até a pensar na
possibilidade de ela desistir de tocar naquela cabeleira toda, suava feito um
porco no cio.
Mas a mulher foi valente. Depois de inúmeras tentativas e
quase se peidando de medo, meteu a tesoura e fez o corte mais bonito que alguém
podia ter feito.
Tentei juntar os pedacinhos.
“- Você tem o habito guardar quando corta?” – perguntou a
moça.
Minha mãe, com a resposta na ponta da língua, respondeu: “Não,
ela não tem o habito de cortar”.
E é verdade. Parece que tirei uma parte de mim.
Não fui onde eu costumo cortar porque não abre segunda e
este é o único dia que eu tenho para fazer isso. Além do mais, percebi que meu cabeleireiro
tem medo de mexer no meu cabelo, porque uma vez, aos 12 ou 13 anos, eu não
gostei do corte, fechei a cara, não falei nada e saí, fiquei esperando minha mãe
pagar, do lado de fora do salão.
Passados uns dias, voltei, pedi desculpas e disse que
adorei, porque realmente depois ficou bonito, mas deixei-o numa situação
complicada. Enfim, não quero mais cortar com ele porque dali em diante ele
nunca mais cortou direito por medo- compreensível.
O problema maior é que ninguém reparou.
Eu sempre abominei a idiota pergunta: “Você cortou o cabelo?”
“- Não, fiz bainha”, pelo amor de deus, mas que pergunta,
né. Mas dessa vez, tudo que eu mais queria era ouvir as pessoas perguntando ou
ao menos notando que tirei 2 ou 3 palmos de cabelo.
Hoje, tentando exibi-lo para uma amiga, ouvi dela a
resposta: “Que foi? Cortou?” SE EU CORTEI? COMO ASSIM SE EU CORTEI? Eu tiro
quase todo meu cabelo, passo por uma tortura, fico toda feliz achando que todo
mundo vai reparar que cortei aquele cabelão enorme que chamava a maior atenção,
e NINGUÉM nota.
Até que hoje, na faculdade, uma colega de classe veio com a
pergunta: “cortou o cabelo?” Respondi toda feliz: - Sim! Seguido de um enorme
sorriso.
“-Ficou lindo”. Pronto, era tudo que eu queria ouvir. Que
cortei e que ficou bonito. Poxa, mas ela nem é minha amiga. Minhas amigas mesmo
nem repararam. Triste fim pra mim. Trágica história. Achei que todo mundo ia
notar, afinal, quase 6 meses que não dava se quer um cortezinho. Tem 3 anos que
meu cabelo não fica curto desse jeito e nem pras pessoas repararem.
Não as culpo! A vida é muito corrida, temos que estar
ligados em tudo e muitas vezes, certos detalhes nos passam despercebidos. Tudo bem!
O importante é que eu gostei.