quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Uma hora a ficha cai

Ele me deu um pé na bunda. E doeu. Fiquei sem entender direito o motivo. Tudo parecia bem. A gente parecia bem. O mundo parecia um lugar bonito e seguro. Eu parecia bonita e segura. E de repente as coisas mudaram. Ficou um vazio grande no lugar dele. Ficou uma sensação de perda dentro de mim.
Na hora em que o calo aperta e o coração quase derrete não adianta falar de tempo. Enfia o tempo no bolso e sai daqui! Não quero saber se o tempo cura, não quero ouvir que ele é o melhor remédio para todos os males. Não quero sair, não quero conhecer gente nova, não quero achar novo amor. Aproveita e enfia o novo amor no bolso também.
Eu quero é ele. Ele, ele, ele. É que não tem ninguém igual. É que não vai ter sentimento igual. É que não vai ter outra pessoa que seja assim, tão única, tão perfeita, tão, tão...sabe? Não vai ter, eu sei. Eu sei e todo mundo sabe, não sei por qual motivo, razão ou circunstância ficam me enrolando e tentando me passar a perna com esse lance de o-que-é-seu-tá-guardado.
Tenho certeza que ele é a minha alma gêmea. Eu nunca acreditei nisso. Até conhecer aquele homem. Meu Deus, ele é a metade da minha laranja. Por ele eu mataria e morreria. Por ele eu seria sempre melhor. Por ele eu seria até capaz de virar Amélia, a mulher de verdade. Por ele. Ele, que fez com que eu entendesse o amor. Ah, o amor. Aquele cretino. Aquele safado. Aquele ordinário. Aquele sem vergonha que faz a gente entregar o coração e acabar de mãos abanando e sangrando.
Nunca mais vou amar ninguém. Não quero. Não vou. E não adianta você voltar com aquela história do tempo. E não adianta querer me levar pra sair, pra conhecer gente, pra esfriar a cabeça. Não quero saber de toda aquela baboseira de cortar o cabelo, renovar o guarda-roupa, começar a malhar, frequentar novos lugares, mudar velhos hábitos, incrementar o dia a dia. Não quero saber de tudo aquilo que as mulheres fazem para tentar achar A Cura.
Não quero me curar. Quero beber todo dia uma vodca barata. Ou cara, depende do dia do mês. Quero beber e ficar sozinha. Prometo que não vou encher os ouvidos das amigas, das colegas de trabalho, dos amigos gays, da vizinha do andar de cima, da minha mãe. Prometo que nem vou buzinar nos ouvidos do terapeuta. Juro que me comporto. Fico eu, o pouco de sanidade que resta, o copo sempre cheio de vodca, algumas lágrimas e um punhado de recordações. Quero isso. Quero a depressão. Quero a fossa. Quero me acabar. Quero ficar arrasada para sempre. Quero ficar pensando nele o dia todo. Recordando cada momento que passamos juntos. Não quero saber de me entupir de chocolate e carboidratos. Vou fazer greve de fome até morrer. E antes vou deixar um bilhete: morri, seu idiota. Morri.
Acho que agora estou entrando naquela fase da raiva. Aquela em que a gente imagina o cara de terno e gravata fazendo cocô. Aquela em que a gente começa a pegar nojinho. Aquela em que a gente usa todos os palavrões para definir o infeliz. Aquela em que a gente sai da fase da música de corno para cantar bem alto “I’m Every Woman” de braços abertos, abraçando o infinito, até ficar rouca e louca.
Guardei as fotos em uma caixa e escondi ela no fundo do armário. Melhor deixar longe. Melhor não ver. Melhor parar de fuçar no Facebook. Melhor deixar de seguir no Twitter. Melhor deletar o telefone do meu celular. Melhor não dar uma espiada na vida da ex. Não quero mais saber o que ele come, se sente frio, se reatou com a antiga namorada, se continua lindo de morrer, se acabou comprando aquele tênis que eu disse que combinava com ele. Não quero saber nada disso. Quero virar autista e fingir que ele nunca existiu. Assim sofro menos. Assim vivo mais.
Hoje eu reparei que as olheiras diminuíram. E que deixei de chorar. Me achei mais corada. Menos pálida. Mais bonita. Uma beleza melancólica. Tem um pouco de tristeza nos meus olhos. Mas vou me maquiar. Senti vontade de me arrumar. Pra mim. Para meu espelho. Pra me animar. Uma amiga me convidou pra um happy hour. Vou. Uns caras me olharam, me senti mais mulher, me senti bem. Quase não lembrei dele.
Estou trabalhando bastante. É bom ocupar a cabeça. Parei um pouco de beber. Arrumei minhas gavetas. Joguei umas coisas fora. Decidi limpar as coisas por aqui. Acendi um incenso. Dancei sozinha na sala. Ri. Fui na padaria. Comprei pão francês e queijo cottage. Decidi dar uma volta no Ibirapuera. O dia está tão lindo. Encontrei uma velha conhecida. Conversamos. Marcamos um sushi para o dia seguinte.
Fui jantar com a velha conhecida. Me diverti. Voltei pra casa, assisti um filme bobo, lembrei dele, chorei, sequei as lágrimas e me perguntei: por que estou chorando? Entrei no Facebook e vi uma foto dele com uma mulher peituda. Chorei mais. Dormi chateada e pensei isso-nunca-vai-passar.
Comecei a caminhar todos os dias pela manhã. É melhor, vou para o trabalho com mais ânimo. Um cara bem interessante caminha por lá também. Não usa aliança, está sempre sozinho, ouvindo música e com o olhar longe. Parece eu.
Me distraí. Esbarrei no cara. Ele se desculpou e sorriu. Nossa, que sorriso bem lindo. Senti uma coisinha no peito. Sorri de volta e segui andando. Na outra volta encontrei ele de novo, que sorriu mais uma vez. Para, que vou morrer aqui. Na outra volta eu já estava cansada, mas ansiosa por aquele sorriso. Ele sorriu. Me derreti. Parecia uma abobada. Voltei pra casa.
No outro dia acordei feliz da vida, o cara sorridente ia estar lá de novo. E estava. E sorriu. E sorri. E ficamos nessa por uma semana. Até que ele pediu meu telefone, eu dei e ele me ligou. Quer ir ao teatro comigo? Quero. Enquanto eu me arrumava ele me ligou. Ele, que me deu um pé na bunda. Não atendi. Sorri. E tentei lembrar a última vez que lembrei dele. Não consegui.
Talvez eu volte a acreditar no amor de novo. Talvez eu nunca mais sofra. Talvez. A vida é cheia de “talvez”, mas uma coisa é certa: o tempo ajuda. E não adianta você dizer que não e tentar lutar contra isso.

(Clarissa Correa) 
Mais uma vez, falando por mim.

Universo pela tela



A internet, entre outras tecnologias atuais ligadas a ela, trouxe e tem trazido muitos pontos positivos. Mas assim como a invenção do avião, há séculos atrás, que teve a intenção de trazer benefícios e acabou trazendo alguns malefícios, esses tais “recursos tecnológicos atuais” também tem trazido.
Não critico o fato de as pessoas quererem se manter 24 horas por dia online e muito menos de quererem estar antenadas, “por dentro” de tudo que acontece, recebendo as noticias sempre em primeira mão. Não condeno ninguém por querer saber 5 minutos antes o que vai acontecer na novela ou 1 minuto depois sobre um acidente em Tókio.
Mas convenhamos que muitos recursos considerados “antigos”, como papel e caneta, lápis e borracha, ou até mesmo um telefonema para perguntar se está tudo bem e convidar para o seu aniversário, acabaram sendo engolidos pelos torpedos via sms, recados no face, criação de eventos no mesmo, atualização de fotos, conversas via in Box ou BBM. Seus amigos, agora, um segundo depois que você faz alguma coisa, ficam sabendo. Seja porque você escreve no face ou porque posta uma foto no Tumblr.
A comunicação, ao mesmo tempo em que expandiu seus horizontes e se aprimorou, está ficando cada vez menor. As pessoas quase não se falam mais...
No meu aniversário, pude contar nos dedos o número de pessoas que me ligou para dar os parabéns. Não que isso seja ruim (apesar de ter sido via internet, de alguma maneira elas lembraram de mim – mesmo que quem tenha as lembrado seja o Orkut ou o Face).
Estou vivendo na chamada “era tecnológica”, em pleno século 21, num momento em que tudo tem se resumido à “ter, comprar, vender, se conectar, estar online”. Isso é ótimo! Sinal de que o ser humano, a cada dia que passa, evolui nas suas descobertas, mas isso não significa que não haja pontos negativos nessas evoluções.
Um diálogo, por exemplo, muitas vezes, acaba sendo prejudicado pelo vicio de ficar mexendo no celular para ver se alguém fez alguma atualização – digo por experiência própria.
Quisera eu, poder estar sempre por dentro de tudo, ter um Iped, um Iphone, um Black Bery, ou qualquer coisa do tipo. Infelizmente não tenho. Não só porque não posso, mas porque não faço questão de tamanha futilidade. Sei que quando chegar em casa, é só ligar o computador e ver tudo o que aconteceu durante o dia. Não vejo necessidade desse desespero por novidades. O ser humano almeja demais o novo, quer inovações, deseja mudanças e quando elas finalmente ocorrem, boa parte de quem queria isso, acaba não dando o devido valor.
Todo mundo sabe das qualidades que isso tudo traz consigo, tanto pelo que eu disse aqui, quanto pelo que não precisa ser dito, já que é visto...
No entanto, dentre essas qualidades, posso ter certeza que não se incluem algumas que estão sendo, inevitavelmente inclusas, como por exemplo: O Diálogo, o “cara a cara”, “frente a frente”, “olho no olho”. Isso quase não acontece mais.
A vida é muito mais que isso, vai muito além das redes sociais. As pessoas mais felizes não viveram a sua adolescência grudados num aparelho eletrônico, seja na escola, academia, na mesa de jantar ou até na frente da tv. Mas sim brincando na rua, se sujando, levando palmadas... Vivendo.
Sinceramente, eu sou super adepta à tudo que vêm acontecendo no meu século, mas digo, como alguém que não viveu nem um terço de sua vida (eu espero) que: As pessoas estão desperdiçando tempo demais das suas vidas com futilidades e recursos tecnológicos altamente avançados, ao invés de aproveitar o que há de mais simples e bonito. Tem gente que deixa até de namorar, de amar, de se olhar, se tocar, pra navegar. Trocam o toque da pele pelo touch no Ipod, o brilho do olhar pelo brilho do scream, querem trocar a vida por um universo visto por uma tela, através de um cristal liquido, ou seja lá o que for. Posso ser adepta à tecnologia, ter 19 anos e parecer careta, mas eu, por mais que goste, não troco, de jeito nenhum, a convivência pessoal pela virtual. 
E ponto final!