Ele me irrita, me tira do sério. Na verdade ele me coloca no sério. Eu estou bem, e só de vê-lo, complementá-lo ou simplesmente falar o nome dele, fico totalmente diferente. Talvez por lembrar de tudo que ele me fez passar e/ou acreditar. Ele tem a capacidade de modificar meu dia – para pior. Não pelas caras que faz, nem as piadinhas irônicas com respeito a mim (exemplo: “sua feiosa”,” nada gostosa você heim”,” de ladinho é sempre melhor”) e muito menos por ser tão insensível debochado e sínico.
Na verdade ele me irrita simplesmente por existir. O que ele está fazendo aqui? Porque toda quarta de manhã sou obrigada a me deparar com ele? Tudo bem que ele seja amigo do meu vizinho/primo, mas eu deveria me lembrar de não entrar na casa ao lado as quartas-feiras antes de uma da tarde - ele certamente estará lá.
Mas hoje foi pior. Meu ascendente em Áries explica o fato de eu gostar sempre de estar com pouca roupa. É uma característica herdada, tanto do signo quanto da minha falecida avó. Todos dizem que isso “era coisa dela”. Pois bem, ando bem à vontade em casa, independente de quem esteja lá. Não totalmente independente. Nesse caso, por exemplo, se eu soubesse que daria de cara com ele, de fato estaria vestida adequadamente.
Eu acordei por volta das 11 da manhã, me alimentei e fui como eu estava – blusa de manga comprida, calcinha razoavelmente grande, sem sutiã e descalça – até o vizinho e por ser algo rápido que eu faria,nem me preocupei, até porque todos já estão acostumados a me ver assim e entrei no quarto com o fim de acordar minha prima – havíamos combinado de sair juntas e cedo – e assim que entrei tropecei, estava escuro, mas nada grave. Acordei-a e proporção que íamos descendo eu contava algo para ela sobre o dia anterior – com respeito ao atual dono do meu coração – fomos caminhando até a sala dela para ver na Internet horários de filmes.
Ela andava na minha frente e algo interrompeu minha fala e me fez esconder o corpo visivelmente exposto atrás dela, acompanhado de uma expressão automática e involuntária: "- ops", seguido de um sorrisinho ultra-sem-graça.
Logo me irritei com a sua risadinha e quis saber se ele tinha visto alguma coisa e o que mais me irritou foi a forma com a qual ele me respondeu. Ria como se fosse a coisa mais normal do mundo para ele e disse: “só um pouquinho assim, meio que de ladinho”, não contive o risinho pela expressão "de ladinho". Em seguida retomei ao meu estado de seriedade e indaguei: " como tem a coragem de rir ?" preferia não ter perguntado, mas só fui me dar conta de que era melhor não te-la feito, ao ouvir sua resposta: "ah relaxa ! de ladinho é sempre melhor" ainda escondida deixei escapar um som de raiva com a boca fechada,os dentes apertados,as narinas abertas e os olhos quase fechados. Ele continuava a rir e me mandar ir colocar uma roupa.Irritada,fui enquanto resmungava: "o que está fazendo aqui? Quem te convidou?” e ouvia-o dizer : “ não acredito que anda assim pela casa". Eu retrucava gritando: “ o intruso aqui é você, a casa é minha. Saí andando mais rápido, preferi não ouvir a resposta que imaginei ser: “ se bem que antes você gostava quando eu vinha aqui”
.Claro que eu gostava. ANTES!
Voltei vestida e quando cheguei ele abriu um sorriso concomitantemente à sua ação de tocar violão sentado no sofá.
Retribuí seu sorriso com o meu, não foi o mais simpático, mas foi real, pelomenos. Foi um sorriso amarelo, fechado, de quem não estava com a mínima vontade de sorrir. Sincero!
Abaixei para complementá-lo, já que minha mãe me ensinou a ser educada, independente do nível de ódio que estejamos das pessoas. Ele me abraçou pensando que eu faria o mesmo, ilusão. Dei os dois beijos mais frios da minha vida e logo me afastei, ignorando seu abraço. Ele não entendeu o motivo da minha frieza. Me machuquei muito por alguém que não merecia uma só gota do mar de lágrimas choradas em função dele.
Sua estupidez é tão grande que nem ao menos teve a capacidade de se dar conta do motivo pelo qual fui tão indelicada.
Eu procurava o príncipe, ele procurava a próxima. Ele queria uma. Eu queria O. Ele vai descobrir que eu sou A ÚNICA. Eu já descobri que ele é só MAIS UM.
Posso estar viajando, ele parece muito feliz ao lado dela, problema é dele. Claro, se trata de um problema e dos grandes, gigantes, talvez, como o nariz dela e a sua falta de simancol com relação a combinação de roupas e sapatos.
Ele me irrita como quase ninguém consegue. A minha sorte é que tenho alguém para me fazer ficar calma, fazer meu coração sorrir, ser feliz e fazer meus olhos brilharem como a lua no dia em que aquela praia era só nossa.
Só consigo pensar no quanto ele me faz bem, no quanto são diferentes e opostos. Por ele choro também, mas é de alegria. Agradeço pelo outro ser tão estúpido, só assim, me livrei do mal que ele me fazia e hoje estou bem, feliz e apaixonada como há muito tempo não ficava.
(Chris Bastos)
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